“Investimentos multiplicam conhecimento”
Os investimentos do governo do Estado na formação superior e no apoio à pesquisa devem revelar, em curto prazo, importantes talentos em um ambiente muito mais comprometido com a região amazônica. A conclusão é do professor Ennio Candotti, eleito pela terceira vez vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual foi presidente por quatro mandatos. “É matemática pura. Maiores investimentos resultam em mais profissionais qualificados que por sua vez multiplicam conhecimento”, explica.
Multiplicação que teve a colaboração da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Em apenas dez anos, a instituição gerou mais de cinco mil vagas em pós-graduação, criadas de acordo com as demandas do setor econômico do Amazonas. Ao todo, 2.772 alunos foram titulados em cursos de pós-graduação Lato Sensu e 350 em cursos Stricto Sensu. Em 2011, mais de 40 cursos de Lato Sensu estão sendo ofertados e 256 estudantes estão matriculados nos oito cursos de mestrado e 69 nos dois cursos de doutorado.
“O que me parece revolucionário para a educação e a ciência na Amazônia é o fato de que os próprios habitantes dos laboratórios naturais, das bibliotecas vivas, finalmente terão oportunidade de estudar em casa, lá onde os segredos da natureza pedem para ser decifrados. Isso fará com que o universo de jovens envolvidos com a pesquisa e o conhecimento aumente muito”, comemora.
Ennio também chama a atenção para a importância da preservação dos saberes tradicionais e cita como exemplo o caso de uma índia saterê mawé, constrangida numa escola amazonense de não índios por declarar numa redação que gostaria de ser ‘farinheira’. Segundo Candotti, professores e alunos riram e debocharam dela ainda que tivesse o forte argumento de querer evitar a fome entre os membros de sua tribo. “Saber fazer, inclusive farinha, é muito importante e ser farinheira é profissão também. Precisamos de muitas Taizas em nossas universidades e institutos e a UEA pode contribuir para que as Taizas, que são muitas, não se percam no caminho de casa para a escola, oferecendo uma boa escola em que se ensine também a fazer e compartilhar a farinha”, defende.
O cientista alerta ainda para a necessidade de haver planejamento em todo o processo de democratização do conhecimento. Para Candotti, os próximos anos devem ser dedicados a dar consistência, densidade científica e tecnológica a essas iniciativas. Mais professores bem formados deverão se deslocar para o interior, laboratórios didáticos e de pesquisa, oficinas, hospitais escola, médicos, sanitaristas, arquitetos e profissionais de tantas outras áreas não devem estar concentrados na capital.
As estatísticas revelam que mais de 70% das pesquisas na Amazônia são realizadas fora dos institutos e universidades da região. “Os seus laboratórios naturais são explorados por institutos do mundo todo. Somente em pequena parte são explorados por amazonenses, seus institutos e seus poucos pesquisadores”, lamenta o cientista, ao lembrar que as informações voam com a velocidade da luz, mas as pessoas ainda se deslocam com a velocidade que as ‘rabetas’ permitem. “Precisamos com urgência deslocar além das informações, os professores, equipamentos e sua manutenção, técnicos, cientistas e pesquisadores”, conclui.
Fonte: Jornal Amazonas Em Tempo