Jornalistas debatem a divulgação sobre Meio Ambiente na mídia

CIÊNCIAEMPAUTA, POR FABRÍCIO ÂNGELO

Para Wilson Reis, presidente do Sjpam, ainda não se tem no Estado a pauta do meio ambiente como preocupação jornalística nas redações. Foto: Eduardo Gomes/CiênciaEmPauta

Há pouco mais de 20 anos, a imprensa brasileira se deu conta de que era necessário falar de temas voltados à questão ambiental. Com a organização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Rio 92) os grandes veículos de comunicação voltaram suas atenções a assuntos antes dispersos em notas ou notícias curtas. Biodiversidade, Ecossistemas, Amazônia e o tão recente conceito de Desenvolvimento Sustentável viraram febre entre os jovens editores e repórteres tanto das mídias tradicionais, quanto das alternativas.

Hoje o Jornalismo Ambiental vem ganhando espaço na sociedade, principalmente após o aparecimento das novas tecnologias de comunicação.  Mídias democráticas como blogs e sites vêm dando força e ampliando o debate sobre a preservação e conservação dos ecossistemas, assim como gerando novas ideias para que homem e natureza possam viver de maneira harmônica.

O Amazonas tem 100% de seu território inserido no maior bioma do planeta, a Amazônia, e desses, 97% estão preservados. Portanto, pode-se dizer que não há lugar melhor para se debater e ampliar o discurso ambiental, e é o jornalismo ambiental que pode auxiliar a disponibilizar informações, algumas vezes tão especificas, fazendo com que toda a sociedade amazônida seja inserida na produção de políticas públicas para a região.

Segundo Wilson Reis, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas (Sjpam), ainda não se tem no Estado a pauta do meio ambiente como preocupação jornalística nas redações. “Ainda dependemos de datas comemorativas e espaços alternativos para debater as temáticas ambientais, os editores e pauteiros precisam entender que na nossa região falar de meio ambiente é necessário e deve ser rotineiro”.

Reis afirma que os cursos de jornalismo ainda não preparam o estudante para cobrir assuntos específicos, principalmente nas áreas de ciências, o que acaba formando profissionais que só sabem cobrir temas de maneira generalizada. “Temos poucos profissionais com uma visão fragmentada, que saibam trabalhar bem com temáticas que não são tão próximas do dia a dia, e isso prejudica a inserção das pautas científicas e ambientais na produção diária dos veículos”.

DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Vários jornalistas têm utilizado sites e blogs para divulgar matérias específicas de determinadas editorias. Um dos exemplos vem da jornalista amazonense Elaíze Farias, ganhadora de uma das categorias da última edição do Prêmio Fapeam de Jornalismo Científico.  Por meio da criação do site Amazônia Real (www.amazoniareal.com.br) ela escreve principalmente sobre as relações sociais e ambientais da população amazônica.

Para Farias quando se fala em questão socioambiental na Amazônia há uma diversidade de assuntos a serem pautados, mas infelizmente a maior parte das matérias não se aprofunda no contexto do acontecimento. “Aquecimento global, redução de florestas, risco de desaparecimento de espécies da fauna, invasão de terras indígenas, grilagens são motivos suficientes para que o jornalismo se envolva mais com o meio ambiente”, disse.

As reportagens de Elaíze Farias tratam em sua maioria de pautas que não são aproveitadas pelos veículos tradicionais. “Temos caso até de pessoas que me ligam quando veem ou sofrem alguma ação predatória, portanto minhas fontes são aquelas pessoas que sofrem pela pressão do capital sobre a floresta”, informou a repórter.

Henning é autor de um documentário sobre o Rio Amazonas para TV Brasil. Foto: Eduardo Gomes/CiênciaEmPauta

Com experiência de mais de dez anos como correspondente internacional em Nova York, e produtor da TV Brasil, o repórter, produtor e documentarista Herbert Henning conhece bem a Amazônia.

“Tive diversas oportunidades de vir à Amazônia, principalmente por Manaus, e posso dizer que vocês possuem um lugar paradisíaco. Sempre que vinha fazer algum material aqui, independente do tema, a atração era a biodiversidade que você encontra em todo lugar, seja na metrópole e principalmente no interior”.

Henning é autor de um documentário sobre o Rio Amazonas para TV Brasil, que mostra a realidade da população que vive nas margens desse marco amazônico. “Pedimos às pessoas que se manifestassem por meio de cartas, observamos que essas cartas tinham duas coisas em comum, mostravam que a população tinha muito orgulho de morar naquela região e queria aparecer para o resto do País. Ou seja elas pediam cidadania, inclusão”.

O documentarista ressalta que o meio ambiente está se impondo como um dos temas mais urgentes da nossa era, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. “E esse tema ninguém vive tão intensamente quanto o amazônida. Portanto, não existe sociedade melhor para narrar os dilemas, os problemas e as soluções que a floresta pode trazer. O mundo precisa desse olhar, e quem pode conduzir esse processo de tradução e divulgação são os jornalistas e as mídias, sejam tradicionais ou alternativas”, finalizou Henning.

 CIÊNCIAemPAUTA, por Fabrício Ângelo