Jornalistas e pesquisadores discutem relação entre energia, ciência e divulgação

O fato de a distância e a dimensão geográfica do Estado do Amazonas serem os maiores entraves para o desenvolvimento e interligação da rede elétrica local à rede de distribuição nacional pode estar com os dias contados. Isso ficou claro durante o debate promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), a Fiocruz Amazônia e a empresa Eletrobras Amazonas Energia durante a 4ª edição do Encontro FAPEAM de Jornalismo e Ciência, que reuniu jornalistas e cientistas, na última sexta-feira, dia 22 de julho, na Usina Hidrelétrica de Balbina (AM).

Outro momento importante durante o Encontro foi a  apresentação de projetos e iniciativas já em andamento para a geração de energia e que vão contribuir para o desenvolvimento do País, o que de acordo com as metas do governo brasileiro pode chegar, até o final de 2019, a aproximadamente 63,4%  de sua capacidade se reunidas todas as formas de geração de energia previstas (hidro, termo, heólica, biomassa e etc.).

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Parte destes esforços é para retirar o Estado do Amazonas do que o setor energético brasileiro chama de ‘sistemas isolados’, ou seja, sistemas de geração de energia não interligados à rede de distribuição nacional, o que hoje representa 2,1% da produção do País.

Durante sua apresentação o assessor da presidência da Eletrobras Amazonas Energia, Marcio Paixão Ribeiro, destacou algumas iniciativas práticas como a interligação entre Manaus e Macapá prevista para ser concluída em 2012 e a interligação de Manaus com Boa Vista até 2014.

“A interligação Tucuruí-Macapá-Manaus possibilitará a integração de sistemas da Região Amazônica ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de forma que tais sistemas atendam às capitais Manaus e Amapá e também às cidades situadas na margem esquerda do Rio Amazonas entre as duas capitais”, destacou Ribeiro.

Atualmente os sistemas operam de forma isolada e são supridos por hidrelétricas ou usinas térmicas a óleo e a gás. A interligação possibilitará uma redução significativa na queima de combustíveis fósseis e maior estabilidade/confiabilidade aos sistemas da Região Amazônica.

Segundo a diretora-presidenta da FAPEAM, Maria Olívia Simão, o Amazonas passa, hoje, por um momento importante no fortalecimento das ações de ciência, tecnologia e inovação. "Nós não podemos deixar de mostrar isto para a sociedade por meio do trabalho da imprensa. A Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect-Am) e a FAPEAM, dessa forma, vêm agindo para facilitar este processo, por meio de iniciativas como o Encontro de Jornalismo e Ciência, o Prêmio FAPEAM de Jornalismo e Ciência, o Programa de Comunicação Científica ou dos curso de especialização que realiza para ampliar o contato com estes profissionais”, destacou Maria Olívia Simão.

Pesquisas

O evento contou com a presença de especialistas convidados para discutir sobre o tema: o jornalista e repórter especializado na cobertura do setor energético da revista Brasil Energia, Rodrigo Polito, o engenheiro eletricista especialista em Técnica de Alta Tensão, José Carlos de Medeiros e o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Dr. Luís Antônio Oliveira. 

Integrante do Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias para a Produção de Biocombustíveis no Estado do Amazonas (Biocom), financiado pela FAPEAM e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o pesquisador e doutor Luís Oliveira destacou o projeto em execução: ‘Aproveitamento de resíduo de madeiras e avaliação do potencial de espécies florestais para a produção de biocombustíveis’.

Sobre o potencial da floresta para a geração de energia, Oliveira destacou o babaçu, fruto de uma palmeira capaz de produzir óleo diesel, com possibilidade de abastecer uma pequena cidade ou uma vila isolada na Amazônia. “Se nóscomprovarmos por meio das pesquisas o potencial do babaçu como gerador de energia, estaremos criando um novo mercado capaz de gerar empregos e integração social”, detacou.

Outra iniciativa, já em fase de execução foi apresentada pelo coordenador corporativo de Pesquisas e Desenvolvimento (P&D) da Eletrobras Manaus Energia, José Carlos Medeiros. A  geração de energia a partir de etanol de mandioca na Amazônia parece ser promissora de modo que já foram avaliadas as condicionantes técnicas, econômicas, ambientais e legais para a produção e geração de energia no Amazonas.

Medeiros explicou que as metas do projeto agora são a aquisição de dois geradores de 250 kw à base de etanol, a montagem da infraestrutura para instalação dos motores geradores em Lindoia-Itacoatiara (AM), e o plantio da mandioca, o que vai determinar a instalação de uma miniusina.

“Juntar a ciência e o jornalismo para que sejam divulgados os conhecimentos científicos é a forma mais eficiente de divulgar os avanços no setor. É preciso investir mais nessa área de divulgação da ciência”, frisou Medeiros.

Convidado para o debate, o jornalista e repórter especializado na cobertura do setor de energia, Rodrigo Polito, destacou alguns desafios para quem deseja abordar a divulgação sobre o setor. Um deles é conhecer o sistema de geração, transmissão, distribuição, comercialização e operação que envolvem o abastecimento elétrico no Brasil. “Assistir às apresentações, palestras, estudar muito sobre o assunto e prestar muita atenção nos bastidores é essencial, visto que a cobertura do setor energético, assim como em outra áreas, exige muito conhecimento do jornalista”, destacou.

Visita

Além das palestras, o evento contou ainda com uma visita técnica guiada à Usina Hidrelétrica de Balbina e uma visita ao Centro de Pesquisas de Balbina, onde são desenvolvidas ações de preservação de espécies amazônicas.

Para a jornalista Daniella dos Santos, a escolha da temática foi importante, pois os jornalistas, no seu dia a dia, têm dificuldades em lidar com temas técnicos, como é o caso do setor energético. “A presença de um jornalista de fora, especialista nessa área, ajudou muito os jornalistas estudantes que participaram do Encontro a terem uma visão de que a energia pode ser um tema muito mais explorado do que já vem sendo feito”, frisou.

Segundo o jornalista e participante da primeira turma do curso de especialização em jornalismo científico em Manaus, Francis Carvalho, a realização do Encontro representou uma oportunidade imperdível para que os profissionais do jornalismo local pudessem conhecer um pouco mais sobre o tema, uma vez que na maioria dos casos tudo que se sabe é o que é divulgado na imprensa. “Atuar no jornalismo científico requer um conhecimento mais amplo sobre os temas abordados. Estas iniciativas da FAPEAM e Fiocruz têm proporcionado exatamente isso, aproximar os temas científicos dos jornalistas”, finalizou.

O próximo encontro FAPEAM de Jornalismo e Ciência será divulgado em breve na página da Fundação. Aguarde.

Fonte: Agência FAPEAM, por Ulysses Varela e Nefa Costa (redação)