Julio César Schweickardt, pesquisador do ILMD- Fiocruz Amazônia
As Ciências devem sempre caminhar juntas. Sejam nas áreas de Humanas, Exatas ou Biológicas, a pesquisa interdisciplinar vem ganhando espaço e mostra que não existem temas isolados.
É nisso que aposta o pesquisador e ex-diretor do Instituto Leônidas e Maria Deane – Fiocruz Amazônia (ILMD), Dr. Julio César Schweickardt, chefe do Laboratório de História, Políticas Públicas e Endemias na Amazônia. Há mais de 20 anos no Amazonas, o “gaúcho manauara” trabalha com temáticas que, às vezes, podem parecer distantes, mas que na verdade se complementam de maneira a transformar o ILMD em referência nas áreas de História da Saúde e Divulgação Científica em Saúde e Ambiente.
CIÊNCIAemPAUTA: Quando falamos de pesquisa em Saúde, a primeira coisa que nos vem à cabeça são remédios, vacina ou algum tipo de doença. Como se trabalha o lado mais social desse assunto?
Julio César Schweickardt: Ao se falar em Saúde, não só temos só o lado clínico, mas também o lado das políticas públicas, que é o lugar em que as nossas pesquisas se encaixam. Por meio do curso do Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias da Amazônia, promovido pelo ILMD com parceria da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e apoiado com bolsas pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI-AM), temos a oportunidade de orientar diversos trabalhos que abordam o lado da política, sociedade, cultura e da história dos fenômenos da saúde e da doença. São pesquisas que lidam com temas como Aids, Hanseníase, Saúde Mental, instituições de saúde, entre outras.
CIÊNCIAemPAUTA: Além de doenças, quais outros pontos importantes da saúde pública têm sido estudados pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Endemias na Amazônia?
J.S: Existem vários, aqui mesmo no Laboratório temos uma linha que envolve a Gestão do Trabalho na Saúde Pública do Amazonas. Atualmente coordenamos um projeto de pesquisa que foi contemplado pelo Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), que irá avaliar e analisar o perfil dos profissionais de saúde no interior. Esse projeto visa entender e explicar um pouco a questão da fixação e provimento dos profissionais de nível superior nessas localidades, sempre pensando em propostas para a gestão.
CIÊNCIAemPAUTA: Para se pensar em Ciência, Tecnologia e Inovação é preciso entender a história dos processos que as formaram?
J.S: Com certeza, meu doutorado foi em História da Ciência, na Fundação Oswaldo Cruz, inclusive fui um dos primeiros contemplados com o edital RH-Doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Na minha pesquisa fiz um minucioso levantamento de como funcionava a saúde pública no Amazonas, no período da Primeira República. A tese teve uma repercussão muito boa e inclusive se transformou em um livro publicado através do Edital Biblos, pela Editora da Fiocruz. Assim, os problemas da história trazem discussões para as diferentes áreas da saúde pública e coletiva, inclusive para as áreas biológicas, pois problematiza o campo das ciências, a partir de novas categorias e conceitos, que ajudam a entender o desenvolvimento das ciências. Isso mostra a importância dos temas transversais, pois a partir de um estudo assim surgem vários outros e não só na área de História.
CIÊNCIAemPAUTA: O intercâmbio entre pesquisadores é fundamental para o debate e a democratização da pesquisa. Vocês tem algum tipo de programa de intercâmbio entre pesquisadores?
J.S: A pesquisa atualmente se faz em rede e em parceria, pois os problemas das ciências são complexos e dificilmente um pesquisador isolado poderá tratar dessas questões de modo mais abrangente. No entanto, entendemos que a relação da pesquisa não dever estar somente entre pesquisadores, mas é importante pensar que usuários, sociedade, profissionais e trabalhadores sejam envolvidos nos projetos de pesquisa para trazer a dimensão dos problemas da realidade. Além disso, temos a necessidade de que os trabalhadores também façam do seu contexto um lugar de produção de conhecimento.
CIÊNCIAemPAUTA: Hoje, podemos dizer que o ILMD é referência no Estado para formação em Divulgação e Jornalismo Científico. Como é trabalhar com esse público?
J.S: Entendemos que a divulgação e difusão da Ciência têm que fazer parte de qualquer projeto científico, independente da área. Não digo só quando obtemos resultados, mas durante o processo de construção. Ainda não podemos esquecer a dimensão da divulgação científica que também deve estar incorporada nos nossos projetos de pesquisa desde o início, para que os profissionais de comunicação entendam a lógica da pesquisa e estejam propondo e pensando estratégias de divulgação no processo de fazer pesquisa. O laboratório que chefio foi recém-criado e temos cinco linhas de pesquisa: História das Ciências e da Saúde; Epidemiologia, métodos estatísticos e quantitativos; Promoção da Saúde; Políticas Públicas, Planejamento e Gestão em Saúde e uma para a Comunicação e Divulgação Cientifica.
CIÊNCIAemPAUTA: Especializar os jornalistas para falar de C,T&I tem se tornado imprescindível tanto para a imprensa quanto para as instituições de pesquisa. Como vocês tem investido nesse cenário?
J.S: Em conjunto com a SECTI-AM e a Fapeam estamos formando a segunda turma da Especialização em Divulgação e Jornalismo Científico em Saúde e Ambiente na Amazônia agora em agosto. Com isso, serão mais de 30 especialistas na área. Acredito que por meio desse projeto estamos contribuindo para que a ciência esteja mais próxima da sociedade, pois essa é nossa função como instituição pública que forma e pesquisa.
CIÊNCIAemPAUTA, por Fabrício Ângelo