Leite materno contém mais de 700 bactérias benéficas
Pesquisadores descobriram que o leite materno contém mais de 700 bactérias com funções ainda desconhecidas, mas provavelmente benéficas. O estudo foi publicado no The American Journal of Clinical Nutrition e relaciona a existência da comunidade bacteriana a variáveis como obesidade e tipo de parto, que podem influenciar na qualidade do leite materno oferecido desde o primeiro jato produzido, o chamado colostro. “A presença de bactérias em mães saudáveis sugere que elas devem ter uma importante função biológica”, afirma a PhD e pesquisadora do Instituto de Agroquímica e Tecnologia da Alimentação do Centro Espanhol de Pesquisa Nacional, Maria Carmen Collado.
Segundo Maria Carmen, o primeiro trabalho a identificar a presença de micróbios benéficos no leite materno foi publicado em 2003, por um outro grupo de pesquisadores espanhóis, e até essa época o leite era considerado estéril a menos que existisse uma infecção e/ou contaminação. De lá pra cá, surgiram outros estudos e a presente pesquisa trouxe novidades no que se refere à presença dessas bactérias.
Utilizando técnicas baseadas em análise de DNA, os pesquisadores viram que os micróbios estavam presentes tanto em amostras de leite coletado no primeiro e no sexto mês de lactação, como também no colostro, indicando que essas bactérias não são uma contaminação. “Nossa hipótese é que esta função deve ser tanto metabólica, para o bebê digerir os componentes do leite, ou imunológica, na estimulação ou treinamento do sistema imunológico do bebê durante seu desenvolvimento”, afirmou Carmen, em entrevista ao site da Veja.
VARIÁVEIS MATERNAS INFLUENCIAM O LEITE
A pesquisa também observou a existência de variáveis maternas, ainda não claras, que influenciam na riqueza microbiana do leite. Entre elas, o tempo de lactação, o peso e o Índice de Massa Corpórea (IMC) da mãe, assim como o ganho de peso durante a gravidez. Outro fator de forte impacto é o tipo de parto, já que se observou diferenças nas comunidades bacterianas dos leites de quem teve parto normal e cesariana (eletiva e de urgência).
“O trabalho mostra que partos cesarianos alteram a composição bacteriana e que seus efeitos no desenvolvimento do sistema imunológico do bebê devem ser melhor compreendidos”, explica Alex Mira, PhD e pesquisador do Centro para Pesquisa de Saúde Pública da Espanha.
PERGUNTAS A RESPONDER
Os resultados podem até sugerir que é possível uma mãe ter um leite mais saudável optando por um parto normal, por exemplo, ou mantendo o peso. Mas os cientistas afirmam que mais pesquisas são necessárias. Quando se fala em amamentação, os pesquisadores dizem que é necessário analisar se estratégias alimentares são capazes de modificar a composição microbiana sem mudar as outras propriedades benéficas do leite humano. “Nós também gostaríamos de fornecer novas informações à indústria alimentícia infantil para incluir micróbios nas fórmulas e imitar a real composição e efeitos do leite humano”, acrescentou Mira.