Linha de energia ameaça espécies raras na Amazônia

O macaco-aranha está entre as espécies que podem ter dificuldades em atravessar a região sem cobertura florestal. Foto: Bruno Gonzalez

Uma das maiores linhas de energia do mundo, aguardada como promessa para abastecer as populações isoladas do Norte do País, a ligação Tucuruí-Macapá-Manaus está sendo bombardeada por ambientalistas. O motivo do protesto é a construção de uma grande estrada entre as torres, que terão até 70 metros de altura. O caminho vai riscar uma das mais preciosas reservas naturais da Amazônia, prejudicando pesquisas científicas e expondo espécies ameaçadas da região.

O “Linhão”, como o trajeto é conhecido, chegou no ano passado a Manaus. Agora, a obra avançará 750 quilômetros para o Norte, rumo a Boa Vista.

Trata-se, porém, de um caminho problemático. Seu traçado cruza a Reserva Florestal Adolfo Ducke, administrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e considerada uma das principais regiões de estudo de florestas tropicais do mundo.

“O problema não é propriamente a linha, mas a zona logo abaixo de onde ela passa”, ressalta William Laurance, da Universidade James Cook, da Austrália, que estuda distúrbios na floresta tropical e é um veterano pesquisador da Amazônia.

De acordo com Laurance, as estradas sob as torres teriam até 70 metros de largura. “Pode não parecer muito, mas é um espaço intransponível para muitos animais da floresta”, lamenta.

Animais noturnos, como o jaguar, são intimidados pela abertura de um espaço iluminado no meio de seu habitat. Presas de espécies importantes também podem ter dificuldades para atravessar terrenos sem cobertura vegetal.

“Se a linha corta a conexão entre a reserva e a floresta vizinha, a reserva vai se tornar uma ilha. Nossos estudos mostram que esse isolamento leva à perda rápida de espécies”, alerta Philip Stouffer, da Universidade de Louisiana, que pesquisou as aves da região por mais de 20 anos.

EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO

Outro alerta vem da Amazônia Ocidental, o trecho mais preservado da floresta. Segundo um estudo inédito da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, a Região pode ter sido alvo de poluição generalizada por petróleo ao longo das últimas décadas.

A produção de óleo na Região foi iniciada na década de 1920 e atingiu o pico 50 anos depois, mas a atual demanda global está estimulando um novo crescimento de extração. Cerca de 70% da Amazônia no Peru estavam sendo usados para essa atividade econômica entre 1970 e 2009.

O levantamento, realizado entre 1983 e 2013 na porção peruana da floresta, encontrou nove tipos de poluentes, como chumbo, mercúrio e cádmio, em dez rios afluentes do Amazonas.

Segundo o líder da pesquisa, Antoni Rosell-Mele, nenhum estudo foi publicado até hoje sobre o impacto da extração de petróleo em florestas tropicais intactas.

“Parte dessa poluição pode chegar ao homem e prejudicar a nossa cadeia alimentar. E também existe o efeito dos derrames de petróleo sobre as espécies ameaçadas de extinção”, lembra.

Fonte: O Globo

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