Luísa Massarani, coordenadora do Museu da Vida

Graduada em Jornalismo, Luísa Massarani é mestre no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict)  e doutora em Gestão Educação e Difusão Em Biociências no Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente atua como coordenadora do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida/Casa Oswaldo Cruz/Fiocruz.

Nesta entrevista exclusiva para o CIENCIAemPAUTA, Massarani discute a importância do jornalismo científico e o crescimento do número de atividades que aproximam a ciência da população, associados aos benefícios do desenvolvimento tecnocientífico  a melhor qualidade de vida. Confira.

CIÊNCIAemPAUTA – Qual a importância da divulgação cientifica?

Luísa Massarani – Um dos aspectos mais importante na ciência é entender as audiências. Temos falado mais em ciência nos meio de comunicação de massa, porém temos que pensar em quem lê a matéria. A divulgação científica busca mostrar a importância que a ciência tem na vida cotidiana das pessoas, mostrar que a ciência está presente o tempo todo, e não é algo distante. Outra importância que a divulgação científica cumpre é o de fazer com que a própria comunidade científica se preocupe mais com a sociedade, além de dar uma visão geral da ciência aos pesquisadores, de uma forma geral, para além da sua área de pesquisa.

CIÊNCIAemPAUTA  – Como você acredita que o jornalismo pode contribuir com a sociedade em relação aos serviços voltados para a Ciência, Tecnologia e Inovação?

Luísa Massarani – A ciência tem tudo a ver com a sociedade. Às vezes pensamos em ciência como alguma coisa feita por um grupo de indivíduos mais isolados da sociedade. É fundamental entender que ciência tem tudo a ver conosco e gera impactos econômicos e sociais importantes. Para que uma matéria jornalística possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade é necessário que apresentemos a ciência como ela é e não apenas com as descobertas pontuais da ciência.

CIÊNCIAemPAUTA  – Então, qual seria o papel do jornalista que trabalha com divulgação científica ?

Luísa Massarani – Nós como jornalistas temos que mostrar a complexidade da ciência. Ressaltar as questões positivas da ciência, mas também não deixar de comentar as negativas. Trazer questões que podem ter impacto para a sociedade e contribuir para que se tenha um debate bem informado da sociedade relativos aos temas de ciência e tecnologia.

CIÊNCIAemPAUTA  – A sociedade bem informada colabora no avanço da divulgação científica ?

Luísa Massarani – Temos algumas questões que não são somente científicas e passam por uma série de âmbitos, seja econômico, social, ambiental, religiosos e outros. O caso das células tronco é um deles. Tem que ser realizada audiências pra discutirmos com a sociedade esse tipo de pauta. Estimular as pessoas a pensarem em ciência, como algo que afeta diretamente as suas vidas. A divulgação cientifica é antes de tudo, um meio de prestação de contas à sociedade sobre o que vem sendo desenvolvido nas instituições, em sua maioria, instituições públicas.

CIÊNCIAemPAUTA  – Qual foi o momento na história  que se notou a importância de divulgar as experiências científicas ?

 Luísa Massarani – A década de 20 foi um dos momentos mais importantes de divulgação cientifica, pois os próprios cientistas tiveram uma série de iniciativas criadas dentro  do âmbito da Academia Brasileira de Ciências(ABC). Eu acredito que foi um momento de maior mobilização da comunidade de científica, em que, por exemplo, criou-se a primeira rádio brasileira voltada pra divulgação científica é uma serie de artigos e jornais. Neste momento, claramente, a divulgação cientifica era uma forma de sensibilizar os tomadores de decisão sobre a importância da ciência, ajudar a consolidar os sistemas de ciência.

CIÊNCIAemPAUTA  –  A criação das Fundações de Amparo (Faps) e Secretarias Estaduais de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectis) está ajudando a consolidar o sistema de  ciência e tecnologia e inovação brasileira. Qual a importância deles para divulgação científica ?

Luísa Massarani – Do ponto de vista da divulgação científica um marco importante, a partir de 2003, teve esse esforço de criar dentro do Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) uma secretaria de inclusão social com um departamento de popularização da ciência.  Com isso a divulgação científica começou a ser vista como política de estado.

Em seguida, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) criou um comitê voltado para a divulgação científica. Isso é um marco bem importante. Primeiro pelo reconhecimento,  segundo porque nós começamos a receber recursos para projetos e pesquisas em divulgação cientifica . Ter editais específicos para a divulgação cientifica, como possibilidade de receber recursos, especialmente das Faps.

As Faps têm um trabalho importante na área de divulgação científica. Uma que foi extremamente inovadora foi a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) uma das primeiras na área de divulgação científica com diversos produtos  como revista, editais, programas, e uma série de ações para valorizar a divulgação científica. Felizmente, outras Faps estão seguindo o exemplo do Amazonas.

CIÊNCIAemPAUTA, por Adriana Pimentel