Maria Cristina Soares Guimarães, do Icict/Fiocruz-RJ
As relações entre ciência e sociedade têm passado por transformações nos últimos anos em decorrência de controvérsias contemporâneas. A sociedade do conhecimento, que depende essencialmente da inovação para impulsionar o crescimento econômico, faz com que a ciência, a tecnologia e inovação ocupem arenas cada vez mais contestadas no domínio público.
Autores como BAUER, ALLUM e MILLER (2007) e ROWE e FREWER (2005) apontam para a evolução do conceito de Public Understanding of Science ou Entendimento Público da Ciência (EPC), conceito esse que, para além do foco no fluxo de informação, coloca novas perspectivas e estratégias de aproximação entre ciência e sociedade, mobilizando outros campos do conhecimento, como a sociologia, psicologia, história, ciência política e o jornalismo científico.
Uma dessas estratégias é o engajamento público e a divulgação científica para a construção da ciência e de novos rumos, para falar sobre o assunto o portal CIÊNCIAemPAUTA conversou com a professora Maria Cristina Soares Guimarães, mestre e doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ).
CIÊNCIAemPAUTA: Qual a importância da divulgação da ciência na atualidade, onde a disponibilidade de informação é imensa?
Maria Cristina Guimarães – O sentido maior da ciência é o seu compromisso social, portanto, nada mais natural do que trabalhar para que a sociedade a “consuma” de uma forma mais atenta e consequente. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) e, claro, a internet, ampliaram a possibilidade do acesso à informação sobre CT&I. Defendo a democratização e a mais ampla circulação da informação cientifica como forma de expressar um compromisso da ciência com a sociedade, mas acredito que isso não basta para mobilizar a sociedade para importância da participação e discussão sobre o tema. Divulgar é necessário, mas não suficiente para buscar uma ciência mais próxima das reais demandas da sociedade.
CIÊNCIAemPAUTA: A senhora conduz algum projeto nessa temática entre ciência e sociedade?
MCG – Sim, eu tenho um projeto que discute essa relação Ciência X Sociedade, mais especificamente, no campo da saúde, com o foco no engajamento comunitário. O projeto procura jogar luz sobre o SE e COMO pode uma comunidade se interessar e mobilizar para discutir ciência no seu território. Ou seja, dado um território onde se desenvolve um projeto de pesquisa na interface saúde-ambiente, quais estratégias podem estimular a comunidade local a se sentir habilitada e politicamente competente para discutir, com os pesquisadores, os encaminhamentos da pesquisa.
CIÊNCIAemPAUTA: O que é essa nova forma de divulgar ciência por meio do engajamento público?
MCG – De fato, divulgar e engajar fazem parte de um processo de contínua aproximação entre ciência e sociedade: o primeiro passo é informar/divulgar; engajar pressupõe o reconhecimento de que a ciência pode fazer diferença para a resolução de um problema na comunidade/território. Ou seja, não basta divulgar a ciência, é preciso ir além, e discutir se essa ciência é àquela que faz sentido no território.
CIÊNCIAemPAUTA: O engajamento, principalmente na área da pesquisa em saúde, pode ser uma ferramenta de auxilio na qualidade de vida das pessoas?
MCG – Acredito firmemente que sim: reconhecer o que pode ser melhor para sua própria vida é, antes de mais nada, da ordem da autonomia, da cidadania e do civismo. Qualidade de vida é poder estar no comando da própria vida.
CIÊNCIAemPAUTA: Quais as principais dificuldades para trabalhar com o engajamento público da ciência?
MCG – Talvez o mais importante seja dispor de “uma ciência” que faça sentido para mobilizar a sociedade, ou seja, se a ciência que é fomentada e desenvolvida está distante e guarda pouca relação com os problemas cotidianos de uma comunidade/sociedade, é pouco provável que alguém se mobilize para discutir e participar de seus rumos.
CIÊNCIAemPAUTA, por Fabrício Ângelo