Musa: espaço de contemplação e conhecimento na Amazônia

CIÊNCIAEMPAUTA, POR FABRÍCIO ÂNGELO

O museu nasceu de um projeto do Governo do Estado por meio SECTI-AM, UEA e da Fapeam. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA

Um local onde as pessoas tenham o contato direto com a biodiversidade amazônica e conheçam sobre as diversas dinâmicas que mantém a floresta viva. Desde uma semente de breu-branco a uma onça parda. Um museu vivo, dentro do bioma, onde adultos e crianças possam aprender e ser sensibilizados sobre a importância de cada espécie que ali cresce.

A cada empreendimento imobiliário erguido em Manaus, um pedaço da floresta amazônica desaparece.  O município vem crescendo desenfreadamente e, infelizmente, a cultura das invasões permanece. Por isso é tão necessária a criação de espaços que preservem um pouco do que resta desse bioma.

Localizada na Zona Leste de Manaus, a Reserva Florestal Adolpho Ducke foi criada em 1962 pelo Governo do Amazonas e é administrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Com uma área de 10.000 hectares (100km²), o local ainda abriga o Jardim Botânico de Manaus e o Museu da Amazônia (Musa).

De acordo com o site do Inpa, as atividades de pesquisa na Reserva iniciaram-se em 1963. Desde sua criação, centenas de estudos sobre a biodiversidade foram realizados na reserva, gerando um volume de conhecimento científico que coloca a Ducke entre os mais produtivos sítios de estudo nos trópicos. Atualmente, cerca de 50 pesquisadores e 40 estudantes de pós-graduação trabalham na área.

MUSEU VIVO E METRÓPOLE

Em janeiro de 2009, foi criado o Museu da Amazônia (Musa) em uma área de 100 hectares, dentro do Jardim Botânico de Manaus. Segundo o diretor geral da instituição, Prof. Ênio Candotti, o museu nasceu de um projeto do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (SECTI-AM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), financiado pelo Fundo Amazônia e Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas (Fapeam). “A ideia foi  criar um museu vivo na floresta, um passeio com informações sobre o bioma e suas características”, disse.

Segundo Candotti, existem espaços em cidades como Paris e Nova York que apresentam um pouco da biodiversidade amazônica, mas são amostras não naturais. “O nosso mote é conhecer para conservar, para que possamos mostrar à população que é preciso valorizar a floresta e assim contribuir para sua conservação”, afirmou.

Outro ponto destacado pelo professor é que em sua visão a preservação não deve ser considerada um problema de polícia, de punição, mas sim de educação. “O conhecimento a respeito da dinâmica da importância da floresta é muito reduzido, só conseguiremos apoio para sua proteção quando as pessoas se derem conta, por meio da pesquisa e do conhecimento básico, de quanto ela é fundamental para a vida humana”.

A bióloga Carla Araki, coordena os monitores do Musa. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA

A bióloga Carla Araki coordena os monitores do Musa. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA

Conforme a bióloga Carla Araki, coordenadora dos monitores do Musa, a  cidade vem crescendo muito e chegando dentro dos limites da Reserva  Ducke. “Preocupados com isso, em 2000, o Inpa e a prefeitura de Manaus  criaram o Jardim Botânico com o intuito de trabalhar o conceito de  educação ambiental, principalmente com a população do entorno”,  esclareceu.

Por não ser cercada o risco de invasão da área é iminente e preocupante.  De acordo com Carla, isso precisa ser alertado à sociedade. “É uma área que  é  estudada há mais de 50 anos e não conhecemos nem 10% de suas  potencialidades. Por ser um local de mata primária e contínua existe um  grande fluxo de fauna, como onça e gavião real, e diversidade de flora, e isso  precisa ser preservado”, alertou.

O Musa conta com alguns atrativos que trazem a população local e turistas  para a visitação. “Contamos com três quilômetros de trilhas e iremos  inaugurar uma torre de observação de 42 metros onde é possível ter a visão  de toda a área da reserva acima da copa das árvores”.

Outras atrações estão sendo construídas como um borboletário e um serpentário que devem ficar prontos em breve.

FLORESTA VISTA DE CIMA

Durante o período da Copa do Mundo, o museu abriu a sua torre de observação aproveitando o fluxo de turistas, principalmente estrangeiros, para compartilhar a experiência de observar a floresta.

Agora ela será fechada para a finalização dos acabamentos e segundo o diretor operacional do Musa, Roberto Moraes, os trabalhos devem levar cerca de dois meses. “Essa estrutura tem 42 metros de altura, com três plataformas, uma ao chegar aos 14 metros, outra aos 23 e a final, ao todo são 242 degraus. Ela foi construída em Cuiabá e trazida a Manaus desmontada”.

A montagem da torre foi feita em 100 dias e “manualmente”, sem o auxílio de equipamentos de grande porte como guindastes, o que ajudou a reduzir ao máximo o impacto na área. “Agora estamos na parte final, que é a pintura, isso vai evitar problemas futuros com a corrosão do material. Ainda faremos pequenos ajustes para melhorar o conforto dos visitantes”, disse Moraes.

A estrutura da torre tem 42 metros de altura, com três plataformas. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA

A estrutura da torre tem 42 metros de altura, com três plataformas. Foto: Eduardo Gomes/CIÊNCIAemPAUTA

Da torre percebe-se a variação das alturas das árvores, da temperatura e também uma infinidade de frutos difíceis de identificar. A primeira plataforma aproxima o observador dos troncos e torna  possível avistar pássaros e belas borboletas.

Com o auxílio do guia e estudante de Ciências Naturais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Andrews Gabriel, a visita envolve o aprendizado sobre as belezas e curiosidades do lugar, numa sensação que nem se percebes tão temidos duzentos degraus.

A última plataforma propicia duas visões totalmente diferentes, uma de rara beleza, imensidão e diversidade de árvores que compõem a mais bela paisagem de Manaus; a outra de proximidade dos bairros do entorno e a sensação de pressão que exercem sobre a reserva.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Rubens Gatto e sua esposa, a dentista Aelia Gatto, de São José dos Campos (SP), consideram extremamente importantes esses espaços de visitação, pois ajudam na manutenção e conhecimento de um bioma, além das belezas naturais. “Consideramos que pela quantidade de pessoas que visitam o museu o respeito quanto à limpeza e preservação é fantástico”, disse Rubens.

Visitando Manaus e a Amazônia pela primeira vez, o casal afirma que pretende retornar. “Gostaríamos de conhecer o interior do Estado que todos falam ser muito bonito e preservado”, quem sabe um dia ir à São Gabriel da Cachoeira, fazer um passeio de barco”, disse a dentista.

CIÊNCIAemPAUTA, por Fabrício Ângelo