Peixes são bem mais espertos do que você pensa, garante novo estudo

Ciclídeo africano da espécie Labidochromis caeruleus, muito popular entre donos de aquários, que demonstrou ter boa memória em experimento. Foto: Erica Ingraham

É uma crença popular que os peixes têm uma memória que dura apenas 30 segundos, mas cientistas canadenses acabam de demonstrar que isso está longe da verdade. Segundo eles, os animais podem fazer associações de contexto por um período relativamente longo, como lembrar do lugar onde foram alimentados até 12 dias depois do evento.

No experimento, os pesquisadores estudaram peixes da espécie Labidochromis caeruleus, um ciclídeo africano da mesma família das tilápias e muito popular entre donos de aquários. Estes peixes demonstram naturalmente comportamentos complexos, como agressividade, o que levou os cientistas a especularem se seriam capazes de desempenhar tarefas de memória avançadas. Cada peixe foi treinado para ir a uma área específica do aquário, onde receberiam comida como prêmio, em sessões de 20 minutos cada.

Depois de três dias submetidos a este treinamento, os peixes passaram 12 dias “descansando” e nadando livremente em outro aquário. Mas quando foram levados de volta ao aquário onde passaram pelo treinamento, eles mostraram uma significativa preferência por circular na área associada à recompensa, indicando que lembraram da experiência anterior. Além disso, os cientistas conseguiram reverter a associação em novas sessões de treinamento nas quais a recompensa foi relacionada a um estímulo diferente. Segundo os cientistas, na natureza esta capacidade de associar locais com comida deve ser vital para a sobrevivência dos animais.

“Peixes que lembram onde a comida está localizada têm uma vantagem evolutiva sobre os que não recordam. Se eles são capazes de lembrar que certa área tem comida sem a ameaça de um predador, eles poderão voltar para esta área. E reduções na disponibilidade de alimento vão promover a sobrevivência de espécies que podem lembrar a localização de suas fontes de alimentação”, comentou Trevor Hamilton, líder da equipe de pesquisadores da Universidade MacEwan, no Canadá.

Na natureza, os ciclídeos têm uma dieta variada que inclui lesmas, peixes menores, insetos e plantas. Assim, os cientistas também acreditam que eles aprendem a associar os locais com seu alimento preferido. Os pesquisadores agora também querem investigar se a força da memória dos peixes é afetada por condições ambientais e pela presença de drogas na água.

Hamilton contou ainda que seu interesse nos ciclídeos surgiu de relatos de donos de aquários, incluindo de sua colega Erica Ingraham, sobre o comportamento destes peixes.

“Há muitas anedotas sobre o quão espertos estes peixes são. Algumas pessoas até acreditam que seus ciclídeos assistem TV com elas”, disse.

Fonte: O Globo