Pele de jaraqui origina gelatina com elevado valor nutricional e rendimento
CIÊNCIAemPAUTA, por ROSILENE CORREA
Gelatina desenvolvida após o processamento da pele de jaraqui se mostrou rica em proteína e lipídios, e pode ser utilizada na indústria alimentícia e farmacêutica. O produto é resultado do estudo ‘Aproveitamento da pele de jaraqui (Semaprochilodus spp) na forma de gelatina’ desenvolvido pelos pesquisadores Francisca Souza e Jaime Aguiar, da Coordenação de Sociedade, Ambiente e Saúde (CSAS) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Para desenvolver o estudo os pesquisadores receberam o apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). O objetivo da pesquisa foi identificar as possíveis alternativas de aproveitamento de subprodutos provenientes de descarte de jaraqui em Manaus.
O produto final apresentou um rendimento superior à gelatina obtida de suíno, que representa a maior parte do produto consumido no mundo atualmente. “A gelatina de pele de jaraqui apresentou teores de umidade e lipídios semelhantes aos da gelatina suína, mas a diferença está no valor nutricional que é mais elevado”, informou Souza.
Adquirida através do colágeno animal, a gelatina é uma substância usada na alimentação humana na produção de iguarias, e na indústria para dar volume e firmeza a alimentos e medicamentos diversos.

Produto é usado na indústria para dar volume e firmeza a alimentos e medicamentos diversos. Foto: Filipe Augusto/CIÊNCIAemPAUTA
Para Souza, a alternativa de aproveitamento da pele de pescado pode diminuir os custos da matéria-prima para as indústrias e colaborar com preservação do meio ambiente. “A proposta é que a produção de gelatina a partir da pele do jaraqui dê uma nova perspectiva para o descarte de subprodutos oriundos de peixes na nossa cidade. Essa aplicação pode contribuir com a comunidade acadêmica, científica e com a sociedade, pois traz informações sobre o aproveitamento desse descarte e colabora com a sustentabilidade e com o meio ambiente, além de ofertar um produto com valor nutricional superior ao que temos hoje no mercado”, explicou.
SUBPRODUTOS DE PESCADO
O Estado do Amazonas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ocupa o topo no ranking em consumo de peixes no Brasil. Entre as espécies mais consumidas está o jaraqui, isso é um fator positivo e que pode incentivar a produção em escala industrial da gelatina, como explica a pesquisadora.
“O consumo de peixe, especialmente o jaraqui, no nosso Estado é muito grande, e a pele do pescado normalmente é descartada, jogada no lixo, mas as análises mostraram um elevado valor nutricional desse derivado”, conclui Souza.

Na forma gelatinosa o produto concentra 17% de nutrientes, na forma liofilizada chega a concentrar 75%. Foto: Filipe Augusto/CIÊNCIAemPAUTA
O formato final é o que influencia no valor nutricional da gelatina como explica a responsável pelo estudo. “A gelatina pode ser na forma de geleia ou na forma liofilizada (desidratada), sendo que a segunda apresenta uma concentração de nutrientes superior à primeira. O valor nutricional chega a triplicar. Se na forma gelatinosa ela concentra 17% de nutrientes, na forma liofilizada ela chega a concentrar 75%. O rendimento nutricional do pó foi 16,8%, semelhante ao valor descrito em estudos anteriores para a tilapia”.
Há décadas a gelatina é utilizada na indústria farmacêutica. Ela é ideal para essa área devido à formação de películas e géis termorreversíveis (que são ativados com a temperatura), por exemplo. A expectativa dos pesquisadores é que o produto desperte o interesse da indústria nesse âmbito.
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CIÊNCIAemPAUTA, por Rosilene Correa