Pesquisa aponta generalização da má educação digital

Sabe aquela história do sujo falando do mal lavado? Pois é, 95% dos adultos brasileiros gostariam que as pessoas tivessem mais educação ao acessar seus dispositivos móveis em público, embora eles mesmos tenham hábitos considerados inadequados. Esse é um dos dados curiosos apontados na pesquisa sobre etiqueta móvel e compartilhamento digital, feita pela Ipsos Observer, a pedido da Intel.

O estudo foi realizado no Brasil, entre junho e agosto deste ano, com uma amostra nacionalmente representativa de adultos e adolescentes (entre 13 e 17 anos), com base na população on-line. França, Japão e Estados Unidos também foram pesquisados. Nos três países, o desejo por uma maior etiqueta móvel atinge mais de 90% da população. A “epidemia” de má educação digital desperta também a ira dos indonésios (98%), chineses (97%) e australianos (94%).

GAFE CIBERNÉTICA

Cada país elegeu a pior gafe cibernética. Nos Estados Unidos, por exemplo, escrever mensagens no celular enquanto se está dirigindo ganhou o primeiro lugar entre os motivos de desagrado. Para os franceses, falar alto em público é o hábito considerado mais rude. Já no Japão e no Brasil, é melhor você evitar escutar música muito alto em público. Os brasileiros também apontaram entre os piores fatores de incômodo, o excesso de compartilhamento na web. Isso num país em que, segundo revelou a pesquisa, cerca de metade dos adultos e adolescentes compartilham informações on-line diariamente. As fotos são as campeãs de publicações de 78% dos adolescentes.

VOCÊ É O QUE COMPARTILHA

Nem só de erros gramaticais e da busca insana por amigos virtuais são feitas as gafes virtuais. Algumas envolvem punição mais séria por postagens impulsivas que vão desde o envolvimento do nome da empresa em um perfil pessoal até a publicação de fotos de outros sem permissão. Quem atesta é Líigia Marques, antropóloga e consultora em etiqueta, marketing pessoal e mídias sociais. Ela lançou no fim do ano passado, com Hegel Aguiar, o livro Etiqueta 3.0 – Você “on-line” & “off-line“,   que reúne dicas para usar as mídias sociais de forma consciente. Ligia entende que gafes virtuais são caracterizadas por situações em que a imagem de quem posta fica seriamente prejudicada.

O livro trata das bases da construção de um perfil em uma rede social. A autora procurou estabelecer um paralelo entre a etiqueta no mundo real e virtual. A antropóloga mostra que o perfil não é brincadeira, mas sim de uma ferramenta que pode colaborar positivamente ou muito negativamente para a vida das pessoas na realidade. “Mostramos desde a importância de definir o objetivo central ao decidir participar dessa ou daquela rede social, como fazer a construção de uma página e perfil que consigam criar um engajamento fiel e crescente das outras pessoas”, descreve.

Por ser um heavy user (pessoas que usam com muita frequência) das redes sociais, o brasileiro tende a cometer ainda mais gafes que pessoas de outras nações, mas os problemas acontecem em todo o mundo. A autora explica que não há uma receita para evitar erros na rede, mas algumas dicas são úteis para que você não se precipite e poste algo inadequado que possa prejudicar alguém. “Nosso lema é: ‘Você é aquilo que compartilha’. Ou seja: que imagem você está passando ao mundo por meio do que posta? É isso mesmo que gostaria de passar?”, ressalta.

NADA DE EXAGERO

Sobre a exposição da vida pessoal na rede, a consultora explica que não há uma regra definida. Vale o bom senso para avaliar se não está sendo inconveniente. “Conteúdos do tipo ‘Adoro esmalte escuro’ (um dos exemplos verdadeiros do livro) mostram que a pessoa não tem nada melhor a dizer e deveria, portanto, evitar de postar naquele momento até ter algo relevante.”

E ser ativista de sofá, pode? “Ficar só na rede social e não fazer nada no mundo real pela causa é, no mínimo, estranho! Mas não vejo motivo para os ativistas serem crucificados. Quem não estiver interessado na causa defendida deve apenas parar de segui-los ou tirá-los do círculo de amigos”, afirma.

CHEFE É CHEFE

Ser amigo do chefe na rede também é um grande dilema. Na opinião de Ligia Marques, a pessoa deve escolher suas amizades de acordo com o seu interesse e até mesmo conveniência momentânea. “Se o chefe pedir para ser adicionado não deveria haver motivos para não aceitar essa amizade, se o funcionário souber se portar na rede social. De qualquer forma, há como limitar um pouco o acesso às postagens por meio das configurações de privacidade”, esclarece.

Para a escritora, infelizmente a maioria dos perfis em redes sociais representam só o que o indivíduo gostaria de ser e não o que é . “Pregamos a transparência nas redes sociais, mesmo porque as mentiras logo serão descobertas. Mas este ainda é um longo caminho a ser trilhado”, afirma.

 

Fonte: Estado de Minas, por Shirley Pacelli