Pesquisa estuda sobrevivência dos indígenas no espaço urbano de Manaus

26/07/12 – São Luís (MA) – Os indígenas que saíram do seu território tradicional para o espaço urbano perdem a identidade? Eles conseguem manter a sua cultura? A divergência de opiniões sobre essas questões é grande. A pesquisa “Da migração à sobrevivência: os indígenas sateré-mawé no espaço urbano de Manaus” teve como objeto de estudo a comunidade residente no bairro da Paz, zona Centro-Oeste de Manaus.

O objetivo foi discutir as práticas corporais e manifestações culturais vivenciadas pelos indígenas no processo de transição de vida do seu habitat para o espaço citadino. A pesquisa, apresentada durante a sessão de pôsteres da 64ª reunião anual da SBPC, que acontece em São Luís (MA) até esta sexta-feira, foi desenvolvida pelo pedagogo Marcos Afonso Dutra, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com a orientação da doutora em práticas culturais dos povos tradicionais, Artemis de Araújo Soares.

No decorrer da pesquisa, o mestrando buscou compreender as múltiplas representações que estão inseridas nessas práticas e nas referidas manifestações.  “Migrar é uma coisa. Sobreviver no espaço citadino com a conservação da cultura dos povos tradicionais é outra coisa”, esclarece.

De acordo com o mestrando, o estudo desmistificou o discurso dominante de que o índio citadino, ao migrar para cidade, perdeu a sua identidade. “Ele não perdeu a identidade, mas sim incorporou a identidade do não índio para sobreviver nesse espaço. Um exemplo que pudemos presenciar durante a pesquisa foi quando uma graduanda de pedagogia indígena da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) estava junto com as crianças indígenas ao microfone cantando hino evangélico em sateré-mawé. Isso reforça a nossa hipótese”, afirma.

Adaptabilidade e sobrevivência

Para sobreviver no espaço urbano, os indígenas produzem peças artesanais e comercializam. “A venda das peças não consiste tão somente numa estratégia econômica necessária para a subsistência na cidade, mas apresenta-se como elemento de manutenção de uma cultura material diferenciada que surge como um fator de resistência e organização política. Os trançados, as tramas e as sementes trabalhadas apresentam-se como elementos diacríticos de identidade que os diferencia dos demais”, explica Dutra.

A pesquisa revela que a cultura tradicional é acionada na cidade para a afirmação da identidade étnica. Nesse caso, por exemplo, o ritual da tucandeira é resgatado como parte do patrimônio imaterial da etnia e, dentre os múltiplos sentidos que adquire, demarca as relações sociais e de gênero entre os índios Sateré-Mawé, destaca o mestrando. “Além de realizarem os rituais no espaço da comunidade, chamado de malocão, os indígenas também são convidados por escolas localizadas nas proximidades para mostrarem sua cultura”, complementa.

Perfil

A população indígena que se encontra na cidade de Manaus, em sua maioria, é proveniente do alto rio Negro e do alto Solimões. De acordo com registros do Distrito de Saúde Oeste da Secretaria municipal de Saúde de Manaus (Semsa), 25 famílias Sateré-Mawé residem no Bairro da Paz, totalizando cerca de 110 pessoas, divididas em duas comunidades (Wykyhú e Y’apyrehyt). Na zona Oeste, também existem comunidades indígenas nos bairros Compensa e no Tarumã, das etnias Mura e Kambeba.

Na zona Norte, há os Tikuna e os Deni, residindo no bairro Cidade de Deus. Na zona Leste estão os Cokama e outros representantes da etnia Sateré-Mawé, localizadas no Ramal do Brasileirinho. Os Dessana podem ser encontrados no Igarapé da Castanheira, zona Sul.

Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2001, 7.896 índios de diferentes grupos étnicos vivem em Manaus – 646 na área rural de Cuieiras. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no entanto, estima que a população indígena em Manaus ultrapasse os 10 mil.

 

Fonte: CIÊNCIAemPAUTA/SECTI-AM, por Anália Barbosa