Produtos patenteados pelo Inpa aguardam investimento industrial
Invenções como a granola de pupunha, o biocida orgânico e o creme dental fitoterápico com flúor são amostras do que se pode produzir com os insumos da Amazônia. Mas, apesar dos avanços, a região enfrenta o desafio de transferir tecnologias desenvolvidas em laboratório para o setor industrial. Somente o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) tem 80 produtos patenteados à espera de investidores.
O 8ª Reunião do Fórum de Inovação do Amazonas, marcado para esta terça-feira, 28, pretende apresentar soluções para o problema. O fórum será realizada no Auditório Auton Furtado Junior da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), localizado à Avenida Joaquim Nabuco, 1.919, Centro.
Em 60 anos de existência, o Inpa transferiu apenas quatro patentes a empresas. Segundo o diretor substituto da instituição, Estevão Monteiro, produtos como fitoterápicos, podem levar até dez anos para entrar no mercado. “No Inpa, temos fitoterápicos de branqueamento dental. Esse tipo de produto, que é de qualidade refinada, demanda empresas com nível de sofisticação mais elevado”, disse.
Monteiro afirmou que o Brasil, especialmente a Amazônia, precisa criar uma cultura de empreendedorismo com foco no investimento de produtos patenteados. “Precisamos de pessoas que sejam capazes de colocar em risco o seu negócio, trabalhando com novos produtos. A inovação é uma cultura que começa na academia, no segundo grau ainda”, defendeu.
O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (SECTI-AM), Odenildo Sena, reforça a afirmação. De acordo com ele, nos Estados Unidos, as empresas privadas lideram o investimento em inovação. “O Brasil investe pouco em pesquisa e desenvolvimento. Importamos muito e trabalhamos com pacotes prontos. Mas, estamos avançando devagar rumo à cultura do investimento”, frisou.
PROTEÇÃO
Monteiro afirmou ainda que o depósito de patentes é um dos indicadores do Produto Interno Bruto (PIB) de um país. “Na sociedade moderna, o que se mede em termos de conhecimento também é a capacidade do país em gerar inovação”, destacou.
Segundo a chefe da Coordenação de Extensão Tecnológica e Inovação (CETI) do Inpa, Rosângela Bentes, a conquista de patentes representa independência tecnológica, além de proteger o país da concorrência desleal. “Mostra que a empresa tem tecnologia própria e está preocupada em proteger suas pesquisas. Muitas patentes foram registradas por outros países, porque o Brasil não se preocupa em fazer proteção intelectual”, avaliou.
De cosméticos a alimentos industrializados, a Amazônia tem matérias-primas que dão origem a produtos inovadores. Entre as invenções produzidas nos laboratórios do Inpa, estão a farinha de pupunha, desinfetantes à base de óleos da Amazônia e fitoterápicos que combatem a cárie dentária, o que representa um avanço para a odontologia brasileira.
Também há depósito de patentes com potencial na indústria farmacêutica, como é o caso do uso de derivados semi-sintéticos no tratamento da malária. A criação “refere-se à obtenção de derivados inéditos a partir de uma substância natural extraída da caapeba, Pothomorf peltata, planta amazônica utilizada no tratamento da malária”.
FÓRUM
O 8ª Reunião do Fórum de Inovação do Amazonas propõe o estreitamento da relação entre pesquisadores e empresários. Durante o evento, os investidores poderão tirar dúvidas sobre a Lei do Bem (Nº 11.196 de 21 de novembro de 2005). “Apesar de ser uma lei relativamente antiga, pouco tem sido usada pelas empresas”, disse Sena.
Segundo o secretário, a lei prevê incentivos fiscais a empresários que investirem em pesquisas. “Eles poderão abater o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI)”, afirmou.
O pesquisador Antônio José Inhamuns da Silva vai expor o processo para enlatamento de alevinos de matrinxã (peixe amazônico), durante o fórum. “A ideia é que possam surgir empreendedores interessados em investir no produto”, disse Odenildo Sena.
Fonte: G1 Amazonas, por Eliena Monteiro