Projeto Nova Cartografia Social na Amazônia em nova fase com recursos do BNDES

Tradicionalmente apoiado pela Fundação Ford, o programa conta agora com recursos do Fundo Amazônia previstos para o quadriênio 2011-2014.

17/01/2012 – Diante do sucesso de capacitar povos indígenas e moradores de comunidades tradicionais na Amazônia, como quilombolas, pescadores, ribeirinhos e quebradeiras de coco babaçu, começa a ser desenhada uma nova fase para o Projeto Nova Cartografia Social na Amazônia (PNCSA) – criado em 2005 pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) – com o apoio financeiro de R$ 4,6 milhões do Fundo Amazônia do BNDES.

Pelo projeto, coordenado pelo antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, esse público, nos últimos anos, adquiriu conhecimentos sobre o uso de tecnologias modernas, como softwares e técnicas de GPS, e sobre linguagem cartográfica formal, pelos quais começaram a produzir mapas e monitorar em tempo real suas próprias terras. Agora, os beneficiados podem contribuir no acompanhamento dos efeitos da devastação ambiental e dos desmatamentos provocados pela expansão dos agronegócios, principalmente da soja, do dendê, do eucalipto e do ferro gusa produzidos em suas próprias regiões. Esse regulamento pode também ter efeitos no avanço da pecuária, das madeireiras e da exploração mineral. Na prática, com o apoio do BNDES, esse pode ser o próximo passo do projeto que beneficia também seringueiros, castanheiros, piaçabeiros, peconheiros, além de povos indígenas e outras comunidades tradicionais na Amazônia.

"Em virtude disso, têm-se condições de possibilidade para se pensar, sob outro prisma, os efeitos da expansão dos agronegócios, principalmente do cultivo da soja, do dendê e do eucalipto, bem como da expansão pecuária, madeireira e da exploração mineral (com a elevação dos preços do ferro e do ouro)", disse o antropólogo, também professor da UEA, ao Jornal da Ciência.

Os resultados dessas atividades, segundo acrescenta Almeida, permitem informações mais precisas e cartograficamente localizadas sobre desmatamento, devastação ambiental e contaminação de recursos hídricos. "(Esses resultados) podem ser combinados com outras iniciativas de pesquisa que têm sido levadas a cabo notadamente pela Embrapa", complementa o antropólogo.

Projetos de pesquisa do governo – Hoje os projetos de pesquisa do governo são realizados pela Embrapa Monitoramento por Satélite. Segundo informações desse órgão, o número de projetos de pesquisas em execução cresceu mais de 150% de 2009 a 2011. Se considerar projetos financiados por fontes externas e pela Embrapa (nacional), o total passou de oito projetos, em 2009, para 23 em 2011, com destaque para temas como georrastreabilidade, monitoramento de pastagens degradadas, balanços ambientais, sistemas de monitoramento do uso e cobertura das terras, dentre outros. Conforme as informações, tal crescimento foi acompanhado pela ampliação da rede de parceiros e colaboradores, incluindo instituições nacionais e internacionais de pesquisa, entidades governamentais e do setor privado, além de Unidades da Embrapa.

O chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Mateus Batistella, que este ano foi reconduzido ao cargo por mais três anos, diz ser fundamental o conhecimento sobre as relações espaciais entre fatores biofísicos e humanos, como base para um desenvolvimento sustentável, diante dos desafios globais de elevar a produção de alimentos e minimizar os impactos ambientais.

Apoio financeiro ao PNCS – Apoiado inicialmente pela Fundação Ford, o Projeto Nova Cartografia Social foi contemplado em junho do ano passado pelo Fundo Amazônia, do BNDES, com recursos de R$ 4,6 milhões para serem executados no decorrer do quadriênio 2011-2014. O projeto do antropólogo possui também bolsa de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

"Trata-se de uma nova fase com respeito aos financiamentos de pesquisas científicas, com uma ação de apoio do BNDES a núcleos de pesquisa de universidades públicas", destaca o antropólogo, também conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), referindo-se ao apoio do Fundo Amazônia.

Com os recursos do Fundo Amazônia, que foram liberados no final de 2011, começaram a ser instalados oito "laboratórios cartográficos" em universidades públicas do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Maranhão, Mato Grosso e Amapá. Essa montagem ocorre por intermédio da sede (do projeto) localizada na Universidade do Estado do Amazonas, em Manaus.

Já em referência ao apoio da Fundação Ford, o antropólogo acrescenta que os recursos concedidos por essa instituição permitiram a montagem de um laboratório cartográfico na Universidade do Estado do Amazonas, o qual produz "os mapas situacionais, privilegiando a diversidade das expressões culturais combinadas com distintas identidades coletivas objetivadas em movimentos sociais".

Segundo o mencionado professor, já foram produzidos cerca de 130 fascículos, com os respectivos mapas desenvolvidos por moradores de comunidades tradicionais da Amazônia, cujas informações estão disponíveis em http://www.novacartografiasocial.com. Foram publicados também 29 livros no âmbito do PNCSA, sendo que alguns refletem relações de pesquisa com cientistas da Argentina, Colômbia, Venezuela e Bolívia.

Prêmios recebidos – Refletindo o reconhecimento ao desempenho social do PNCSA, o coordenador do Projeto Nova Cartografia Social recebeu prêmio "Visonaries Award" de US$ 100,000 da própria fundação em maio de 2011 e os doou às instituições públicas que abrigam o projeto.

Fonte: Jornal da Ciência, por Viviane Monteiro