Qualidade da água no Amazonas é foco de pesquisadores internacionais

Fiscais do Ministério da Saúde (MS) constataram que 100% da água distribuída aos municípios do Amazonas está fora dos padrões sanitários estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e do próprio ministério, em 2012. O então presidente da Associação Amazonense de Municípios (AAM), Jair Souto, definiu a qualidade da água que abastece o interior do Amazonas como “problema grave”.

Para melhorar o cenário atual da qualidade da água no interior do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em parceria com universidades europeias, elaborou o projeto “Inovação Social no Setor de Tratamento de Água na Amazônia”. Ao longo de 36 meses, uma equipe de 15 pesquisadores e universitários da UEA atuarão em três comunidades de Silves (a 204 quilômetros de distância de Manaus), levando informações sobre acesso à água potável para cerca de 200 famílias, como informou um dos pesquisadores do grupo, o engenheiro florestal Paulo Sampaio.

Pesquisador aponta uso de cloro, preservação de nascentes fluviais e armazenamento correto para melhor qualidade da água. Foto: Arquivo/ Portal AmazôniaPara o pesquisador, a situação é preocupante. “A incidência de doenças e a mortalidade infantil estão diretamente conectadas ao consumo de água contaminada”, constatou. Para as autoridades públicas, Sampaio aponta o saneamento básico como principal responsabilidade. “É comum vermos nas comunidades do interior o esgoto ir direto para os afluentes que servem como fonte de água para consumo”.

Além do tratamento de esgoto, o engenheiro florestal disse acreditar que o poder público precisa investir em medidas socioeducativas para a população aprender tratar a água que consome. “Medidas simples podem ser adotadas pela população, como uso de cloro, armazenamento correto da água coletada e preservação de afluentes e nascentes dos rios. Isso certamente evita danos à saúde”, apontou.

Entre as ações desenvolvidas na área rural de Silves, reuniões com comunitários; avaliação da água consumida pelas comunidades; e identificação e implementação de ações que melhorem a qualidade da água. “A qualidade da água está diretamente relacionada à qualidade de vida das pessoas”.

Além da UEA, participam pesquisadores da Universita Degli Studi Roma Tre (Itália), Leeds Metropolitan University (Inglaterra), Universitat Autonoma de Barcelona (Espanha) e Universidade Federal do Pará (UFPA). “A parceria com a UFPA e instituições internacionais acrescenta com o intercâmbio de pesquisadores que trabalham com a temática, além de enriquecer o projeto e agregar metodologia”, contou. O projeto conta ainda com financiamento de 315 mil euros por parte da União Europeia.

PLAMSAN

O diagnóstico da Associação Amazonense de Municípios, realizado em conjunto com o MS, considerou 59 municípios do Amazonas. Apenas as cidades de Juruá (a 671 quilômetros de Manaus) e Boca do Acre (1.028 quilômetros) optaram por não aderir ao Programa de Apoio à Elaboração dos Planos Municipais de Saneamento e Gestão Integrada de Resíduos Sólidos dos Municípios do Estado do Amazonas (Plamsan). A qualidade é exigida pela Portaria nº. 2.914/11, do Ministério da Saúde, que através de procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água, atesta o padrão de potabilidade da água.

Em nota, a AAM afirmou que “O interesse da Universidade do Estado do Amazonas em parceria com universidades europeias vem contribuir com os municípios do Amazonas que se encontram em situação precária no que diz respeito ao tratamento da água servida a população”. A AAM ressaltou que os municípios não realizam análises físico-químicas da água e bacteriológicas da qualidade, exigências da portaria do MS, e que utilizam apenas o hipocloreto de sódio. A AAM ressaltou que a manutenção do sistema de distribuição de água do interior é precário, fator que prejudica a qualidade da água.

Fonte: Portal Amazônia