Roubo de carga transportada pela TAM afeta estudo na Amazônia

26/10/2011 – Equipamentos essenciais para uma das maiores pesquisas sobre a dinâmica atmosférica da Amazônia, comandada pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), foram roubados.

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Os aparelhos, cujo valor é estimado em R$ 25 mil, sumiram durante o assalto a um veículo de transportes da companhia aérea TAM.

 

Na ação, ocorrida na semana passada em São Paulo, um grupo de bandidos armados levou três maletas com instrumentos específicos para a coleta de ar na Amazônia.

Além das malas, que pesam 25 kg cada uma, os assaltantes levaram ainda boa parte da carga transportada pela empresa, que incluía desde itens de perfumaria até equipamentos médicos.

"Esse material é essencial. Sem ele, precisaremos diminuir a quantidade de amostras de ar na Amazônia, o que pode comprometer o resultado final sobre os gases-estufa na região", diz Luciana Gatti, do LQA (Laboratorio de Química Atmosférica), coordenadora da pesquisa.

As maletas e os cilindros de vidro que elas carregam, diz a cientista, foram feitos sob medida para o trabalho de monitoramento atmosférico do Ipen. Por isso, não teriam outra serventia.

De acordo com Gatti, como os equipamentos são exclusivos e não teriam valor de mercado, eles foram declarados com um valor "simbólico" de R$ 500.

"Eles têm apenas valor científico. Não podem ser usados para outra coisa. Nós nunca esperamos que esse equipamento pudesse ser roubado. Meu maior medo era que ele se quebrasse no manuseio", disse.

Uma quarta mala, enviada junto com as outras, teria escapado do assalto. "Foi a informação que o motorista nos deu, mas não é oficial."

Em nota, a TAM afirmou que o Ipen poderá ser ressarcido, levando em conta o valor declarado. A empresa não se pronunciou sobre a possível mala restante.

Segundo Gatti, no entanto, o maior prejuízo é científico. Mesmo que houvesse verba para comprar outras maletas, elas levariam, no mínimo, seis meses para ficar prontas.

A pesquisa

Os equipamentos roubados são sistemas de amostragem de ar. Cada maleta contém frascos que armazenam amostras da Amazônia.

Esses sistemas são transportados em aviões de pequeno porte que sobrevoam as cidades de Santarém (PA), Rio Branco (AC), Tabatinga (AM) e Alta Floresta (MT), recolhendo amostras de ar a cada duas semanas.

O material coletado é então enviado –pelo serviço da TAM– para São Paulo. As amostras são retiradas, e o equipamento é enviado de volta para a Amazônia.

Agora, sem três dos dez kits, a periodicidade do monitoramento está ameaçada. "Faço um apelo pela devolução. Essas coisas não têm serventia nenhuma fora do meio científico", diz Gatti.

O projeto do Ipen faz parte do LBA (Experimento de Grande Escala Biosfera-Atmosfera da Amazônia), um dos mais importantes levantamentos científicos da região.

Fonte: Folha, por Giuliana Miranda