ARTICULISTAS
Áreas de fronteiras são usualmente consideradas como de vulnerabilidade acrescida para o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Caracterizam-se por intenso movimento de pessoas e comportamentos sexuais que incluem multiplicidade de parceiros sexuais e prostituição. Pouca informação existe sobre a epidemiologia das IST/HIV nestas áreas. A tríplice fronteira do Amazonas não é uma exceção, pois encravada entre Brasil, Peru e Colômbia, vivem neste território populações indígenas, ribeirinhos, militares, profissionais do sexo insurgentes, além de ser considerada como principal ponto de entrada de drogas no Brasil. Acesso apenas por avião e barco, com limitada estrutura de serviços de saúde.
Estudo multiprofissional realizado com apoio da Fapeam, em 2009, nas três cidades da região do Alto Solimões (Tabatinga-52.279 habitantes, Atalaia do Norte-15.149 habitantes e Benjamim Constant-33.391 habitantes) consistia em criar um mapa temático geoprocessando os “pontos quentes” junto com observações sócio-antropológicas e posteriormente convidar pessoas que os frequentavam para irem aos serviços de saúde e realizar exames para as IST e HIV. O estudo sócio antropológico demonstrou que as atitudes individuais de prevenção eram baseadas na noção de confiança e pela classificação dos parceiros sexuais em “locais” e de “fora”.
Dos 598 participantes do estudo epidemiológico (285 homens e 313 mulheres), 49,3% informaram terem tido um parceiro sexual eventual nos últimos 3 meses e apenas 38,5% utilizavam preservativo, destes 3,5% eram profissionais do sexo, 65,3% dos homens(H) e 37,9% das mulheres(M) admitiam uso de álcool regularmente e 14,2% dos H e 6,9% das M o uso de outras drogas ilegais. O alto consumo de álcool e drogas é um incremento para IST/HIV para as pessoas da região onde encontramos prevalência entre H e M de : Neisseria gonorrhoeae (1.1% e 0.3%),Chlamydia trachomatis (1.4% e 4.8%), HPV (14.4% e 24.0%), sífilis (3.2% e 2.6%), herpes virus tipo-2 (51.1% e 72.1%), hepatite B (7.5% e 4.6%), hepatite C (0.7% e 0.7%) e HIV (1.4% e 0.0%).
O estudo demonstrou que os principais fatores que contribuem para a propagação do HIV já estão em vigor na área da tríplice fronteira, entretanto ainda existe a oportunidade de minimizar a epidemia do HIV no Alto Solimões, o que vem sendo atualmente realizada pela iniciativa das agências das Nações Unidas em parceria com instituições do estado denominada “Amazonaids” que visa: aumentar o acesso ao diagnóstico e tratamento por meio da implementação da testagem rápida de Sífilis e HIV; realizar atividades de prevenção nas escolas; fortalecer o papel da sociedade civil no processo decisório das políticas públicas.
** o texto é uma síntese do artigo científico escrito em conjunto com Meritxell Sabidó, Enrique Galban, Daniel Lúcio Rodrigues Dutra, André Luiz Leturiondo e Philippe Mayaud
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