Sociedade precisa saber o que está sendo pesquisado, diz especialista

De 16 a 19 de julho, Manaus sedirá o I Seminário de Jornalismo em Saúde e Ambiente na Amazônia. O evento, promovido pelo Instituto Leônidas e Maria Deane – Fiocruz Amazônia, conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Para o encontro está prevista a presença de renomados jornalistas/pesquisadores do Brasil. Uma das convidadas do encontro é a jornalista ambiental Ilza Girardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que vai palestrar na abertura do Seminário.

Em entrevista à Agência Fapeam, ela destacou que eventos relacionados ao tema devem se tornar frequentes no País. “Considero o seminário uma bela iniciativa que precisa ser imitada por outras instituições em outros estados brasileiros”, disse. Com doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e vasta experiência em jornalismo ambiental, a pesquisadora ressaltou ainda os caminhos para aliar jornalismo e ciência. Confira a entrevista:

Agência Fapeam – Qual será o tema da sua palestra?

Ilza Girardi – O tema da palestra surgiu através de um dialogo com o coordenador do seminário, o Jornalista Fabricio Ângelo. É o seguinte: “O jornalismo ambiental na Amazônia: a conexão da ciência com sociedade”.  Durante a palestra pretendo falar sobre a popularização da ciência e como o jornalismo tem um potencial para ajudar a conservar e desenvolver a Amazônia, assim como qualquer outro bioma brasileiro.

AF – Quais são suas experiências na área de jornalismo ambiental?

Ilza Girardi – Trabalho com jornalismo ambiental, sou professora de jornalismo ambiental e faço pesquisa com jornalismo ambiental. Já orientei vários Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) e dissertações de mestrado sobre o tema e, atualmente, tenho oito orientados, sendo dois deles em doutorado. Tenho certo conhecimento sobre o assunto também porque faço parte de algumas redes, como a do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (que tem a EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais), a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, a Rede da América Latina e Caribe de Jornalismo Ambiental. Na UFRGS faço parte do Comitê Assessor de Popularização da Ciência, ou seja, tenho plena convicção que o jornalismo tem um grande potencial para nos ajudar a pensar sobre o tipo de vida  que queremos para nós e para todos os seres. Ele pode ajudar na sensibilização das pessoas para os temas ambientais e para a necessidade de mudar atitudes.

AF – Como você analisa a relação entre ambiente e saúde?

Ilza Girardi – É importante dizer que ambiente e saúde estão intimamente relacionados, pois todo dano ambiental é um dano à saúde dos seres vivos. Não podemos esquecer que só o jornalismo ou a comunicação não fazem nada sozinhos. Precisamos no Brasil de políticas públicas e vontade política para que a população tenha acesso a alimentos saudáveis (sem agrotóxicos e adubos solúveis ou qualquer outro insumo que faça mal à saúde), acesso à moradias decentes, que não seja algo com menos de trinta metros quadrados para uma família numerosa (enquanto outras moram em apartamentos com quatro vagas na garagem), acesso à educação de qualidade (o que também significa a presença de professores com remuneração digna), acesso à saúde e assim por diante.

AF – A senhora tem notado o crescimento do jornalismo científico no Brasil?

Ilza Girardi – Temos publicações dedicadas à divulgação das ciências, como revistas, editorias de ciência em jornais e programas de televisão de qualidade. Temos ainda um grande potencial para o trabalho dos jornalistas científicos nas instituições de pesquisa, universidades, fundações de apoio à pesquisa. Vários Cursos de Jornalismo têm em sua grade curricular a disciplina Jornalismo Científico. Isso é uma boa notícia. Mas com certeza tem que melhorar.

AF – Na sua avaliação, quais os principais entraves do jornalismo científico no Brasil e na Amazônia?

Ilza Girardi – Acredito que as instituições de pesquisa deveriam ter equipes de jornalistas maiores, para agilizar os processos de comunicação com a sociedade. Muita pesquisa relevante está sendo feita e a sociedade precisa ter conhecimento, para compreender melhor e participar dos debates sobre as políticas de pesquisa no Brasil. Toda pesquisa deve ser de interesse público, interesse do cidadão e este precisa saber o que está sendo feito e quais as suas repercussões para a melhoria da saúde e quais suas implicações para o meio ambiente, por exemplo. Para a sociedade participar é necessário conhecer. Sabemos que uma boa parcela da população tem acesso ao conhecimento somente através da mídia. Isso faz com que o jornalismo científico ou jornalismo tenha uma função social muito importante.

AF – De que forma a comunicação científica pode ser aliada da ciência?

Ilza Girardi – Dando visibilidade e questionando a ciência. O cidadão precisa saber o que está sendo pesquisado, quem paga a pesquisa, quem ganha com seus resultados e a relevância dos projetos. Com visibilidade, a ciência poderá ser melhor compreendida, assim como seus processos, suas metodologias. Quando isso acontecer ela terá apoio social.

AF – Como um jornalista pode se preparar para ser um bom jornalista científico?

Ilza Girardi – O jornalista deve estudar sempre, mesmo que de forma solitária, ler muito e também lutar frente as suas entidades de classe e instituições em que trabalha para que as instituições de ensino superior promovam cursos de formação em jornalismo científico.

Fonte: Agência Fapeam