Tecnologias sociais do país atraem estrangeiros

21/08/2012 – A fila de países interessados em enviar delegações para conhecer de perto os programas de combate à pobreza do Brasil está cada vez mais longa. Desde agosto de 2011, cerca de 20 países, principalmente da África, enviaram seus representantes para conferir as iniciativas. Até mesmo países emergentes, como a Rússia, e mais desenvolvidos, como o México, estão na fila para conhecer de perto programas como Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e tecnologias sociais brasileiras, por exemplo, para a construção de cisternas e poços artesianos.

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O Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (PMA), parceria do governo brasileiro e da Organização das Nações Unidas (ONU), que trabalha na ajuda humanitária em zonas de conflito como no chifre da África, Haiti e Ásia, tem ampliado sua atuação em cooperação técnica com países como Moçambique, Malaui, Guiné Bissau e Ruanda, que agora partem para uma nova fase. “A ideia central é impulsionar o desenvolvimento desses países por meio de transferência de conhecimentos sobre programas que estão dando certo no Brasil”, conta Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome.

Um dos grandes avanços no Brasil foi a aprovação da Lei da Merenda Escolar, em 2009, que estipula que 30% do orçamento para a merenda das escolas públicas sejam gastos com produtos da agricultura familiar. Essa política vai de encontro às necessidades de países da África. No Brasil, a merenda tem um orçamento de 3,5 bilhões. Isso significa que pelo menos R$ 1 bilhão vai diretamente para o campo sem intermediários.

“Na África, um programa como esse cria dinamismo em diversos setores. Faz o agricultor permanecer no campo, impulsiona a economia e deixa as crianças bem alimentadas na escola”, afirma Balaban. “A alimentação na primeira infância é muito importante, pois influencia o desenvolvimento do indivíduo por toda a vida”, explica. O Níger, por exemplo, que esteve com sua delegação no Brasil, é um dos países com menores índices de segurança alimentar na África e atualmente enfrenta uma séria seca.

Em geral, as delegações ficam duas semanas no Brasil, visitam ministérios como os da Educação, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social para entender os principais programas de cada órgão. A segunda etapa acontece no campo. Os visitantes são levados para conhecer pequenos produtores e entender como as vendas para as prefeituras podem ser feitas, visitam escolas e restaurantes de preços populares.

O PMA escolhe municípios, geralmente no Nordeste, com dilemas e características parecidas às do país visitante. O problema do pequeno agricultor é parecido em diferentes partes do mundo. Muitas vezes, embora não falem a mesma língua, eles conseguem se entender. Quando vão ao Nordeste, os visitantes sentem-se bastante identificados. A ideia é que os países criem resiliência por meio de programas que ajudem a superar problemas históricos no campo.

Moçambique, por exemplo, já estuda a criação de políticas públicas inspiradas no modelo brasileiro. O PMA também reforça a ideia de que esses países mais vulneráveis no campo desenvolvam a atuação da sociedade civil, importante para assegurar a continuidade do programa se houver mudança no governo.

O setor privado no Brasil também se mostra mais aberto aos programas públicos de combate à pobreza. Durante as discussões sobre combate a pobreza na Rio+20, o Grupo Pão de Açúcar anunciou a comercialização do arroz orgânico de grupos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como forma de contribuir com o plano Brasil sem Miséria. Até dezembro, a rede varejista deve comprar 15 toneladas do arroz da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, ligada ao MST.

Além de abrir o mercado, a iniciativa ajuda as cooperativas a se organizarem para atender outras empresas. “Um dos maiores desafios das grandes empresas na hora de comercializar com o pequeno agricultor é a questão da embalagem adequada, logística de entrega e capacidade de atender grandes demandas”, diz Paulo Pompilho, diretor de Relações Institucionais do grupo.

 Fonte: Valor Econômico