UNIVERSIDADE – “A UEA transformou o Amazonas numa grande sala de aula”

Ciência e poesia conduzem as palavras do professor Ennio Candotti ao falar sobre o Amazonas. Um dos mais respeitados pesquisadores do país, eleito pela terceira vez vice presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual foi presidente por quatro mandatos, Candotti vê com otimismo o crescente número de pesquisas científicas e tecnológicas no estado e credita grande parte deste avanço às oportunidades de acesso ao ensino superior criadas pela Universidade do Estado do Amazonas.

“A grande revolução da UEA foi multiplicar em dezenas de vezes os números da oferta de vagas no ensino superior, principalmente a candidatos do interior”, analisa o cientista afirmando que os jovens tem oferecido à região, nestes dez anos, um generoso entusiasmo “temperado com a vivência nos ambientes naturais e sociais muito ricos em segredos e conflitos, além da proximidade de uma história de culturas que cultivaram o respeito à natureza. Serão eles que completarão esta revolução recém iniciada”, prevê Candotti para quem o acesso a educação para populações de pequenas comunidades é a única perspectiva de melhoria de vida para as pessoas e de conservação da floresta e dos rios da Amazônia. “Se essas comunidades não existissem precisaríamos criá-las”, ensina.

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Reconhecido no meio acadêmico e científico como um grande incentivador da aproximação entre os jovens e o vasto mundo da ciência e da tecnologia, Ennio Candotti acredita que os investimentos do governo do estado na formação superior e no apoio à pesquisa deve revelar em curto prazo importantes talentos em um ambiente muito mais comprometido com a região.

“É matemática pura”, ensina Candotti. Maiores investimentos resultam em mais profissionais qualificados que por sua vez multiplicam conhecimento.

Em apenas 10 anos, a UEA gerou mais de 5 mil vagas em pós graduação criadas de acordo com as demandas impulsionadas pelo crescimento econômico do Amazonas. Ao todo, 2.772 alunos foram titulados em cursos de pós graduação Lato-Sensu e 350 em cursos Stricto Sensu. Em 2011, mais de 40 cursos de Lato-Sensu estão sendo ofertados e 256 estudantes estão matriculados nos 8 cursos de Mestrado e 69 nos 2 cursos de Doutorado.

“O que me parece revolucionário para a educação e a ciência na Amazônia é o fato de que os próprios habitantes dos laboratórios naturais, das bibliotecas vivas, finalmente terão oportunidade de estudar em casa, lá onde os segredos da natureza pedem para ser decifrados. Isso fará com que o universo de jovens envolvidos com a pesquisa e o conhecimento aumente muito”, explica chamando a atenção para a importância da preservação dos saberes tradicionais referindo-se ao caso de uma india Saterê Mawé constrangida numa escola amazonense de não-índios por declarar numa redação que gostaria de ser “farinheira” . Segundo Candotti, professores e alunos riram e debocharam dela ainda que tivesse o forte argumento de querer evitar a fome entre os membros de sua tribo. “Saber fazer, inclusive farinha, é muito importante e ser “farinheira” de profissão também. Precisamos de muitas Taizas em nossas universidades e institutos e a UEA pode contribuir para que as Taizas, que são muitas, não se percam no caminho de casa para a escola, oferecendo uma boa escola em que se ensine também a fazer e compartilhar a farinha” defende.

O cientista alerta ainda para a necessidade de haver planejamento em todo o processo de democratização do conhecimento. Para Candotti os próximos anos devem ser dedicados a dar consistência, densidade científica e tecnológica a estas iniciativas. Mais professores bem formados deverão se deslocar para o interior, laboratórios didáticos e de pesquisa, oficinas, hospitais escola, médicos, sanitaristas, arquitetos, historiadores, químicos, engenheiros, agrônomos e profissionais de tantas outras áreas também não devem estar concentrados na capital.

Fonte: UEA