Victor Fernandes, diretor de CT&I da Natura
CIÊNCIAemPAUTA, por Marlúcia Seixas
O jornal francês Le Monde em matéria publicada em 25 de julho, deste ano, destaca a evolução das vendas dos produtos de beleza no Brasil. Em sua apresentação durante o Encontro de Bionegócios Amazonas – França, realizado em setembro, em Manaus, o diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Natura, Victor Fernandes, ressaltou o potencial do mercado brasileiro de cosméticos, que já é o terceiro no mundo e continua a crescer.
O Portal CIÊNCIAemPAUTA falou com Victor Fernandes, que é engenheiro químico e especialista em gestão de inovação e biotecnologia. Na pauta, produtos da região amazônica e o mercado de biocosméticos.
CIÊNCIAemPAUTA: A Natura utiliza em seus produtos matérias-primas da Amazônia. Quais são os planos da empresa para a região?
Victor Fernandes – Nós temos uma iniciativa interna chamada Programa Amazônia que é focada no uso sustentável da sociobiodiversidade amazônica. Como parte da nossa estratégia, queremos ter mais negócios ligados à sociobiodiversidade da região, para isso estamos investindo bastante em cadeias produtivas locais e em inovação. Tudo feito com, para e em cima de artigos da região. O que é parte já integrante do nosso negócio que queremos expandir.
CIÊNCIAemPAUTA: Como que a Natura pretende utilizar a sociobiodiversidade da Amazônia?
VF – Temos como objetivos chegar a 30% das nossas matérias-primas oriundas da região, o que representa basicamente sociobiodiversidade. Queremos colocar uma boa quantidade de pesquisadores trabalhando em rede com a empresa. E por consequência, envolver um número considerável de famílias na região. Sendo assim, um potencial enorme de negócio para diferenciar a Natura. Mostrando parte de quem somos hoje.
CIÊNCIAemPAUTA: De que forma a empresa pretende manter a escala de produção?
VF – Trabalhamos com o manejo controlado, mas também com agricultura sustentável. Nós acreditamos em práticas agrícolas sustentáveis que podem ser o futuro da biodiversidade. Então, estudamos sistemas agroflorestais e novas práticas agrícolas. Com isso, sabemos que é possível realizar o extrativismo sustentável e responsável, gerando ainda mais valor, e preservando a floresta e o ambiente. Tendo um mix de coisas vindas do extrativismo e da agricultura.
CIÊNCIAemPAUTA: A sazonalidade de alguns produtos não afeta a cadeia produtiva da Natura?
VF – Isso é um fato e você não precisa olhar isso como um problema. Quando se trabalha com ingredientes naturais, sejam eles de extrativismo ou agricultura, tudo tem uma safra. Então, eles não são disponíveis como uma matéria-prima de síntese que, de repente, é viável em qualquer quantidade e época do ano. Mas, essa é uma realidade que você tem que aprender a lidar com ela, a humanidade lida com safras desde que ela é humana. A tecnologia está aí para nos ajudar. A natureza tem seus ciclos, e temos que conhecer esses ciclos, adicionar tecnologias para que isso não seja um problema. Ciclos naturais não são dificuldades, são vantagens, desde que você os conheça.
CIÊNCIAemPAUTA: Que recomendação você daria ao empreendedor da região que pretende investir em biocosméticos?
VF – Ele tem que continuar procurando a diferenciação. A biodiversidade amazônica é um tesouro de coisas diferentes e ainda não conhecidas. O empreendedor baseado aqui deve aumentar ainda mais sua diferenciação e conexões. Inovação não é só uma ciência nova, é o aprofundamento de algo que poucos conhecem, ou criar algo que ninguém conhece. Inovação são novas conexões, então, muitas vezes, ele tem que procurar outros parceiros, possibilidades e caminhos para expandir. Inovação não se faz sozinho, inovação é uma brincadeira em grupo. Então, ele tem que procurar pessoas que vão ajudá-lo, e criar novas possibilidades. Esse é o jeito de fazer negócios em base inovadora.
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Diretor da Natura diz que empresas precisam inovar e expandir conexões
CIÊNCIAemPAUTA, por Marlúcia Seixas