Você sabe o que é “Síndrome de Burnout” ?
Se você tem se sentido fatigado, com dor de cabeça, reclamando de insônia, cansaço crônico, tensão muscular, depressão e ansiedade, tem andando consumindo demais tranquilizantes ou antidepressivos e ainda por cima tem a impressão de que seu trabalho é a causa de tudo isso, talvez você esteja sofrendo da “Síndrome de Burnout”. Isso mesmo “burnout”, que pode ser traduzido livremente por esgotamento físico e mental.
Saiba que você não está sozinha, já que estudos indicam que até 20% das pessoas sofrem com o problema, que é uma das causas mais importantes de falta ao trabalho e baixa produtividade. Além disso, a Síndrome de Burnout é constituída por três dimensões: a Exaustão Emocional, caracterizada pela falta ou carência de energia, entusiasmo e sentimento de esgotamento de recursos psíquicos próprios; a Despersonalização, onde o trabalhador passa a tratar os clientes, colegas e a própria organização de forma impessoal, distanciando-se deles; e a Baixa Realização Profissional, na qual o trabalhador tende a se auto-avaliar negativamente, passando a se sentir infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional.
Pois bem, um estudo brasileiro procurou avaliar estas dimensões deste sério problema contemporâneo, numa amostra de 879 servidores públicos municipais de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre. Os participantes foram submetidas a entrevistas sobre diversos aspectos sócio-demográficos e aplicação de instrumentos próprios para avaliar “burnout”. Quase 70% das pessoas eram mulheres, na faixa etária entre 40 e 49 anos. Mais da metade destas pessoas cumpria carga horária de 40 horas semanais.
Alguns resultados da pesquisa são interessantes. Inicialmente, os pesquisadores confirmaram que o problema do esgotamento resulta do estresse crônico, típico do cotidiano do trabalho, principalmente quando existe excessiva pressão, conflitos, poucas recompensas emocionais e reconhecimento profissional. Até aí nenhuma novidade, mas um dado curioso do estudo é que ele mostrou que trabalhar com o público esteve relacionado a menores escores da síndrome. O que realmente importava era o relacionamento entre as pessoas que fazem parte da organização, ou seja, uma parte importante da síndrome não tem a ver com a clientela atendida, mas principalmente com a qualidade da interação com colegas e chefia. Para citar dois exemplos, os índices de despersonalização e exaustão emocional aumentaram à medida que o servidor percebia o trabalho como estressante, com a presença de calúnias e fofocas, grosserias, conflitos interpessoais e pessoas que atrapalhavam o ambiente de trabalho. Por outro lado, quando o trabalhador reconhecia o ambiente como democrático e participativo, os escores melhoravam.
O que fazer então?. Primeiro, reconhecer que o estresse no ambiente de trabalho é um fator de risco para o adoecimento. Segundo, tentar melhorar este ambiente de trabalho lembrando que existem evidências que as intervenções focalizadas no indivíduo são ineficazes, sendo necessária a realização de estratégias preventivas, que atuem diretamente na organização e no ambiente de trabalho. Ou seja, não adianta tentar melhorar o astral e a saúde do trabalhador se o ambiente de trabalho é que está doente.
* Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP. Formado em Psicossomática pelo Instituto Sedes publicou o livro “Ginecologia Psicossomática” .